quinta-feira, março 30, 2006

Madita


Madita, natural de Viena, chamou a atenção quando participou no álbum aclamado pela crítica de dZihan&Kamien Gran Riserva. Desde aí que a vocalista/compositora Madita e o multi-instrumentalista/produtor Vlado Dzihan iniciaram uma relação afectiva. Com este álbum de estreia de Madita intitulado também com o próprio nome da vocalista, estabeleceu-se igualmente uma parceria musical. Este álbum foi lançado pela editora Couch Label, representando os últimos frutos das produções deste dois austríacos, já que Dzihan ficou encarregue de toda a produção e todos os instrumentos envolvidos.
Penetra nos mesmos terrenos downbeat/nujazz presentes em trabalhos anteriores de D&K, acrecentando-lhe uma voz feminina e uma presença lírica, muito ao estilo do registo tipicado por Lamb e Zero 7. (Calma...) O que acabei de referir não quer dizer que madita=Zero 7 ou madita=Lamb. Este álbum atinge igualmente um soul instrumental que se encontra presente nos dias de hoje em Alice Russell. "O disco não pode ser encaixado em nenhuma das usuais convenções musicais associadas à Electrónica ou ao Jazz, em vez disso cria uma nova simbiose musical. ", citando a Couch Label na divulgação deste disco.
Essas noções de não se encaixar em nenhum género musical, que cria todo um ambiente nunca antes visto, deve-vos parecer suspeito quando é a própria editora que o refere. Pessoalmente, concordo plenamente com essa definição vaga, dado que o alcance da sua música é deveras significativo, penetrando em campos musicais de grande ritmo como o samba, assim como o jazz vocal ou mesmo os sons manipulados e electrónicos.
A faixa de abertura, Ceylon , revela-nos um piano elegante num dos melhores momentos downbeat do álbum, acompanhado por um ritmo hip hop que vagueia debaixo dos ecos electrónicos e dos baixos sintéticos, enquanto a espectacular voz de Madita se solta.
Uma força particular que tem que ser mencionada que realmente acrescenta muito a este trabalho, é o facto de Madita ter a confiança de cantar na sua própria voz, que é indiscutivelmente familiar a vozes como Ella Fitzgerald, Billie Holliday mas principalmente com Bjork. Esta sua entrega a diferencia das legiões de vocalistas do mesmo registo nujazz. Monotony é a faixa mais alegre do álbum, muito por culpa dos jazzy pianos e dos ritmos vivos do samba. Mood descende de um s0ul downbeat, enquando a suavidade da voz de madita tenta ganhar espaço entre as texturas sintéticas e o mesmo jazzy piano. Has to be apresenta a letra mais surreal e ao mesmo tempo a mais emotiva ("sometimes my leg hurts me real / sometimes I change my wheels"), antes de To the Moon and Back trazer de volta para primeiro plano o trabalho electrónico de dZihan. June traz à mente do ouvinte o álbum Vespertine de Bjork, somado ás incríveis semelhanças vocais. A última faixa, Intime, procede uma visita ao jazz-samba, em que soa por detrás os xilofones e as percurssões brasileiras.
Esta característica musical de Madita de tentar fundir o latino/brasileiro com o europeu(chamemos assim), parece estar presente em todo o álbum.
Transforma-se, então, facilmente num dos mais capazes e consistentes lançamentos de uma voz feminina do registo soul/jazz, mantendo os padrões elevados já apresentados na backcatalogue da Couch Labor. Capta da melhor maneira a perícia produtiva de dZihan combinada com a abilidade vocal de Madita.

CD: Madita - "Madita" (Couch Records)