segunda-feira, janeiro 22, 2007

James Holden - The Idiots Are Winning

O ainda jovem James Holden é já um elemento fundamental no mundo da música electrónica, posição consubstanciada pela sua intensa actividade enquanto DJ e editor musical (é sua a Border Community). Nasceu para a música dançante em 1999, com apenas 19 anos, quando lançou “Horizons”, e desde então tem desenvolvido uma frenética carreira, conquistando reconhecimento mais alargado através das remisturas de “Get Together” para Madonna e “The Darkest Star” para os Depeche Mode. Balance e James Holden – At The Controls, como bons sets que indubitavelmente são, também lhe garantiram novos fãs.

Faltava então um primeiro disco de originais. Uma forte expectativa acumulara-se em certos meios e, ainda em 2006, chegaria aos escaparates The Idiots Are Winning. Logo se percebeu, pelas primeiras reacções, que James Holden respondera às expectativas com ambição, e que o novo álbum seria uma competente visita às linguagens musicais com que o inglês sempre se exprimira, em maior ou menor abundância, nas suas actuações. Ele vinha cheio de méritos e de boa vontade, numa época em que a oferta musical é, para todos os efeitos, enorme em quantidade. Escuta-se finalmente o disco e o que nos invade é a indisfarçável sensação de que estavam todos certos e, por isso mesmo, errados. A música não é euclidiana.

Em The Idiots Are Winning as músicas não nos chegam como blocos sonoros consistentes; ouve-se e sente-se, a cada momento, os loops, os esboços de melodias, os efeitos e os decaimentos numa tentativa desesperada de relacionamento entre si, como se cada faixa se tratasse de um exercício específico desenhado para se compreender as potencialidades dos programas de sequenciação musical. Quase todas as músicas pretendem ser, simultaneamente, rítmicas, minimais, épicas, dançantes e ambientais, e é nesta confusão de prioridades que o álbum se perde. James Holden quer (e quer tanto) que nos deitemos nas suas texturas, que nos deixemos levar pelas suas progressões, que nos agitemos ou dancemos ao som das suas tímidas linhas melódicas que se esquece completamente que é difícil fazer tudo isto num curto espaço de tempo. Que para atingir tal feito importa ser um pouco mais imprevisível ou talentoso. The Idiots Are Winning é tão regrado que faz da monotonia um sentimento realmente aborrecido, sendo incapaz de levar a nossa consciência a um afastamento que nos permita dizer, pelo menos, que a previsibilidade do álbum é uma encantadora ode à monotonia.

Os pontos altos não são verdadeiramente altos, não passando de pequenos planaltos de mediana satisfação: “Lump” podia ter sido feita por um Vitalic desinspirado, “10101” soa a resultado de um dia menos bom na vida de Isolée e há um objecto estranho pelo meio (“Intentionally Left Blank”) – uma faixa de dois minutos, uma benção, que nos deixa reflectir sobre o tempo perdido na audição do álbum no mais calmo e absoluto silêncio.

Nota: 5/10

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Já há muito que procurava um blog assim. Gostei bastante

4:05 da tarde  
Blogger Comentário Solitário said...

Conheci seu blog hoje e adorei. Eu também estava em busca de um blog assim. Pena que estejamos em países diferentes.

4:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

concordo com tudo o que dizes sobre o disco do Holden mas numa perspectiva do outro lado do espelho. ou seja, todos os defeitos que tu apontas, eu considero qualidades. acho mesmo que é um dos melhores discos de electrónica do sec. XXI.
faço copy/paste de algumas coisas que escrevi sobre o disco:
"Consegue criar um som próprio com toda a naturalidade em que tudo o que se ouve está em permanente mutação, como se estivessemos a ouvir as suas músicas sob o efeito de drogas. O seu recurso a FX, ao contrário de muitos músicos que pretendem tornar as suas criações mais "estranhas" de uma forma artificial, é absolutamente natural e intrínseco. Para além disso tem uma noção perfeita de timing de pista, de suspense, surpresa e explosão.
Para coroar tudo isto James Holden tem o que quase nenhum músico na sua área tem: noção de melodia e preocupação na composição. Ao ouvir este disco tenho aquela sensação e emoção estranhas quando era puto e ouvi os Kraftwerk pela primeira vez: que música é esta ? como é que isto é feito ?"
"mas este do Holden resume de certa forma tudo aquilo que eu sempre ouvi e gostei na música: a estranheza de um Aphex Twin, o power de uns Underground Resistance, as melodias de uns BoC, o hipnotismo da cena minimal-repetitiva (Glass, Reich,...), a sujidade e a distorção do rock, o conforto do pop, e por aí fora. talvez seja uma coisa muito pessoal, mas esta música coincide 100% com tudo aquilo que eu gosto."
"e não é só por isso. estive a ouvir e comparar o EP de Audion-Mouth to Mouth, que apesar de excelente e ter, aparentemente os mesmos objectivos estéticos que este álbum de Holden, está ainda, de certa forma atrás. ou seja, há uma estrutura ainda muito rígida e definida onde giram à volta elementos que completam a música. no caso de Holden, todos os elementos giram à volta uns dos outros. o uso de fx é assumido como uma linguagem própria e não como um adorno ou "efeito". é isto , que quanto a mim, torna este disco do Holden tão especial e tão precursor/inovador no contexto da música de dança. ele tem uma linguagem muito própria e isso é raríssimo acontecer, hoje em dia."
copy/paste do Holden: "O que eu quero conseguir com a minha produção é música electrónica que pareça mais humana e viva, deixar as máquinas funcionar mal à vontade e eu ter pouco controle nelas. Só é preciso saber onde e como se injecta ali vida, e então o computador pode transformar-se num instrumento como qualquer outro. Música feita em computador é desinteressante, na verdade, a menos que tenha esse elemento punk. Os pedaços sujos. É isso que a torna humana, e é nisso que me concentro agora."

11:21 da tarde  
Blogger Pedro Teixeira said...

Curiosamente, tal como não gostei do disco do Holden, também não gostei do Mouth to Mouth. Talvez isso reflicta um temperamento meu para com um certo tipo de música eletrónica, e embora eu preze a utilização dos tais elementos "articiais", cada vez mais aprecio quem os torna orgânicos.

É porventura uma questão de hábito. Desse ponto de vista, o Villalobos é o meu preferido. Gosto de achar o meu ouvido exposto a uma espécie de malha em que os fios não sejam todos perceptíveis individualmente. Não deixa de ser um critério absolutamente subjectivo.

Oiço o The Idiots Are Winning e, tal como tu, pensei "tudo o que gosto, de alguma maneira, está aqui", mas não nas doses que me façam emocionar-me a ouvi-lo.

3:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

também gosto muito do Villalobos, mas acho o último dele uma redundância preguiçosa. um pouco como a actual exposição do José Loureiro no Chiado.
no entanto, pelo que ví do teu blog, compreendo que não "entendas" este disco do James Holden, no sentido em que provavelmente tenhas mais dificuldade em contextualiza-lo.

3:15 da manhã  
Blogger Unknown said...

a forma como os sons nos envolvem ou atingem, não deve ser confundida com qualidade... James Holdem tem um estilo muito próprio, até mesmo peculiar, no que toca à sua forma de produzir. Por isso é tão importante para o mundo emergente da musica electronica.
Sem dúvida que ele percebe aquilo que faz, ou seja, transmitir através de algo muito abstracto toda a mensagem ou poesia musical que lhe vai no cerebro...
Para concluir, digo apenas isto, nem todas as musicas são feitas pa agitar o corpito... Muitas são feitas para agitar os neuronios...
E a lump, sem duvida conseguiu agitar os meus.

4:44 da manhã  
Blogger Helder Almeida said...

Concordo plenamente com o camarão! este disco é um marco na musica electronica, um triunfo dos sintetizadores e da sequenciaçao. James holden tem o raro merito de conseguir trazer o sentimento e a emoção á musica minimal e ao tecno sem o tornar comercial ou foleiro foleiro. a subtileza dos sons e a complexidade das musicas dão-lhe um profundidade que nos dá vontade de ouvir outra e outra vez. Consegue tambem fugir ao padrão estabelecido no tecno do kick a marcar e dominar todo o tema, de uma forma organica e emocional. Vai mudar a forma de fazer musica electronica, se Deus quiser..

9:32 da tarde  

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