quinta-feira, maio 10, 2007

Ed Rec Vol. 2


A música electrónica francesa vive um período de grande agitação, suportado essencialmente pela actividade das editoras Ed Banger, Kitsuné e Institubes. Nomes como Para One, Kavinsky (este editado pela Record Makers), DJ Mehdi, Justice, SebastiAn, Uffie, Surkin, Busy P, TTC e Krazy Baldhead vêm rapidamente criando um movimento de renovação do “french touch” que parecia já circunscrito à segunda parte da década de 90. Ironicamente, num momento em que a última manifestação dos influentes Daft Punk, o angustiante Electroma, pode ser entendido como a “morte” do duo, há uma geração que mostra com descaro que lhes segue na esteira: a que vive sob o selo da Ed Banger.

O elemento mais sintomático - e menos surpreendente – da orientação estética da Ed Banger é o facto de esta ser gerida por Pedro Winter (Busy P), manager dos Daft Punk. Paradoxalmente, o catálogo da editora contém sonoridades tão distintas como as protagonizadas por Uffie, SebastiAn e Mr. Flash, pelo que a impressão que se instala em nós é a de estarmos na presença de uma plêiade de músicos com raízes díspares mas unidos sob o magistério da dupla que prepara a digressão Alive 2007. À parte isto, o que reina na segunda compilação da editora é a ausência de unidade.

No vídeo de apresentação deste Ed Rec Vol. 2 (dirigido por So Me), há uma frase que surge na capa do último vinil que explica a heterogeneidade da editora: “One of our leitmotivs here at Ed Banger is No Boundaries”. Há, contudo, algumas regras a cumprir: a música da Ed Banger tem de ser, no mínimo, dançável e, no máximo, tão agressiva que se aproxime do rave; ser instigadora de um tal hedonismo que não permita a alguém não se esgotar fisicamente numa festa da editora; e, finalmente, ser o mais vã e instantânea possível para que não haja mais metafísica que dançar. Verificados estes pressupostos, não há estilo ou nuance que não possa ser incorporado no catálogo da Ed Banger.

Pode-se dizer que os Stooges e os MC5 passeiam-se por aqui tanto quanto James Brown e os De La Soul. Que estilos como o disco, o rock e o hip-hop andam de mãos dadas nesta compilação. Há o hip-hop deslavado de Uffie em “Dismissed”, o electro industrial e obscuro de Krazy Baldhead em “Strings Of Death” e o disco musculado de Mr. Flash em “Disco Dynamite”. Quando numa compilação há de tudo, fica sempre algo para trás. Mas, para sorte da Ed Banger, a memória adere aos que ficam à frente, e o que deixará verdadeiro impacto nesta compilação é a força que os Justice, Busy P e SebastiAn emprestam ao cruzamento entre batidas house e guitarras fortemente distorcidas, em “Phantom", “Rainbowman” e “Greel”, bem acompanhados pelos ritmos infecciosos de DJ Mehdi, autor do surpreendente Lucky Boy, editado em 2006.

Depois de Lucky Boy, o próximo longa-duração a sair será o aguardado "†", primeiro álbum dos Justice, que cada vez mais se assumem como as estrelas desta constelação francesa. Busy P e SebastiAn também deverão lançar os seus primeiros álbuns. O sucesso futuro da Ed Banger dependerá muito do impacto destas edições mas, ao que parece, veio para ficar.

7/10